domingo, 26 de dezembro de 2010

Três Poemas na Última Semana do Ano

Três Poemas na Última Semana do Ano

Do meu amigo Marcantonio
 POEMA

O poema te procura,
Remota ânsia,
Matéria escura;
Sons andarilhos.
Sino de faiança,
Chamado estranho
À tua vizinhança.

O poema concentra,
A tua distância
Na cela acesa,
Sol amparado,
Céu reduzido,
Vôo simulado
De ave presa.

O poema te arma,
És sentinela,
A mão na faca
Atrás da porta;
Hirto, velas,
No próprio pulso
As horas cortas.

O poema te detém
Remotamente,
Grato refém
Desse exercício,
Louca assistência:
Içar palavras
Suicidadas
No precipício
Da existência.


CYCLADES

A mesma folha
Enche-se de ilhas,
Uma, duas, cem.
Logo está saturada
De Cyclades
Flutuantes
Sobre abismo branco:
Uns tantos destroços vulcânicos
Coagulados.

Nada afunda
E nada se fundamenta.

Nenhum navio transita.
Não há naufrágios.



AFASTAMENTO

Com carvão desenho um perfil na tela.
É todo um ser de proximidades.
Recuo alguns passos:
O entorno enquadra o quadro.
Mais alguns passos para trás:
O entorno do entorno o engole.
Recuando ainda mais:
O entorno do entorno do entorno
Toma tudo para si:
Já não vejo o que pretendera representar.

Um comentário:

Marcantonio disse...

Ô Wellington, que média é essa comigo? Se Maomé não vai à montanha, a montanha vem até ele. Rs. Estou brincando, meu amigo, obrigado por tornar essas minhas pequenas páginas menos ocultas.

Estou sempre de olho aqui na sua faceta de poeta, acompanhando com prazer.

Um grande abraço.

P. S.: Vá você!