quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Poemazinho tolo

Poemazinho tolo
Wellington Trotta
Caminhando,
pensando,
ouvindo,
discutindo,
sorrindo,
lendo,
estudando,
contestando,
aprendendo,
amando,
lembrando,
surgiu você.
Angustiante,
implicante,
observante,
constante,
insistente,
permanente,
presente
de ano-bom.




segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Preferência

Preferência
Wellington Trotta. 

A loura é bonita de amarelos
Cabelos com olho azuis.
A ruiva é bela de vermelhos
Cabelos com olhos amendoados.
A morena é linda de castanhos
Cabelos com olhos melados.
A negra é formosa de pretos
Cabelos de olhos ebâneos.

Mas a mulata é divina por ser  
Bonita, bela, linda e formosa.
Seu olhar é estuante sob o suor
Escaldante das tardes ensolaradas.
Sua boca tem o toque velutíneo
Das manhas brisentas.
Sua pele tem o tempero natural
Mestiço das noites enluaradas.

Se sou um indivíduo e não um ser social,
Tenho escolhas arbitrárias sem explicações.
Se sou um ser social e não um indivíduo,
Minhas escolhas são instruídas socialmente.
Como sou um sujeito historicamente
Dado, sou a construção dessas categorias.
Prefiro a maciez da mulata, com licença:
Seu amor venenoso é mágico-determinante.

413 × 322 - Mulatas e Flor óleo sobe tela - 111 x 143 -
Paris, 1964 - Di Cavalcanti



sábado, 15 de janeiro de 2011

Memória


Memória
Wellington Trotta

Na memória registram-se  fatos e sentimentos,
marcando a vida por segundos, minutos, horas...

A memória é um arquivo vivo do eu,
rolando no seio do interminável.

Na memória configuram-se as representações
essentes sob sínteses existeciais.

Na memória imprimi-se o devenir infurtável,
onde o tempo não existe, perdendo o sentido de juízo.

Na memória o começo morre no encontro do fim
de uma dimensão inexplorável de pulsões.

Assim, na memória só existe e vive você,
transbordando incomensuravelmente.

Minha memória será sempre subserviente
ao perfume daquela tarde intimamente viva.

Comprimida pela beleza, minha memória ficou
 asfixiada nas linhas melódicas do seu corpo.

Por tudo isso, peço ao destino que me poupe
não tirando você de minha memória.

Que tudo  perca-se ou seja subtraído, esquecido,
contanto que a misericórdia só guarde você.

 Minha memória é insuportavelmente você.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Razão?

Razão

Wellington Trotta 

O que é a razão?
Em que medida se constitui premissa de verdade?
Essas inquirições constituem
O cerne do pensamento mistificador,
O centro do intelecto que auto-ambiciona
Ser à base do racionalismo-essente,
Ou se se quiser, a racionalidade que pretende
Como, varinha de condão, dar conta de toda
Complexidade dos problemas humanos.
Afirmo, soberbamente, que todo discurso racional
Não passa de alegações religiosas.
Pensa bastar-se a si mesmo como único
Critério de verdade absoluto para si mesmo.
A razão pode ser tudo, menos racional.
Se a razão fosse sinônimo de bom senso,
Se razão fosse condição de verdade, com certeza,
Estaríamos condenados ao inferno de nós mesmos,
Aos últimos dias da eternidade que se extinguiria.
A razão constitui um discurso de dominação,
Impondo ao dominado uma forma de pensar
Ilusória que o absorve como autossubordinação.
Razão e moralidade são dois substantivos tão abstratos
Que ninguém sabe os seus respectivos conteúdos.
Razão e moralidade são duas faces da mesma moeda
Ao que chamo de dominação pela emoção,
Cuja adoção, pelo dominado, torna-o superior
Nas suas impressões fantasmagóricas.
Sinto muito pela maneira como escrevo,
Enfático e num tom de maestria.
Pode parecer, mas não é verdade, é apenas um discurso
Contra outro que se diz estar de posse
De uma superioridade porque se julga excelso.
Alegação do argumento onde impera a incapacidade
De assumir a complexidade do inesperado.
Sua racionalidade é divina para aqueles
Que se julgam superiores ao adotarem
Supostos critérios objetivos de análise.
Mas esse discurso racionalista-objetivo
É tão subjetivo como o próprio crepúsculo do poeta.
Cômica sua razão, tão subjetiva como todo sentimento.
Razão é instrumento do nada medindo coisa nenhuma,
Qualquer semelhança entre razão e vazio é soma zero,
E zero multiplicado por mil é zero, indubitavelmente.
Sua razão não explica nada e cerceia tudo.
Sua razão não entende nada e obstruí a si mesma.
Sou a consciência do sentimento baforando
Um grito de liberdade sobre essa razão terrível
Que atordoada socorre-se da MORAL,
Objetivando resolver o impossível,
Subsistindo apenas enquanto supressão:
Uma incapacidade de anunciação do em si,
Para si, além de si mesmo.
A moral de suas alegações é qual
Sua razão, tão objetiva que soa sinicamente.





Multidão

Multidão
Wellington Trotta

Mesmo no meio da multidão de compactos rostos,
fisionomias misturadas num perder-se de peculiaridades
no vazio uniforme desvairado-insistente,
de muitos andares sem saber o que desejam,
ou que só desejam, e desejam muito
sem atentar que desejam por desejar incessantemente...
... mesmo nessa multidão de compactos semblantes,
mixórdia de expressões perdidas em pensamentos iguais e pueris,
tão obscuros que me vi cercado por uma escuridão de significados,
portas que fechadas para o tudo se abriam para o nada, solenemente,
no bater de pernas na velocidade de lábios desconexos,
numa realidade só julgada pelos mais loucos critérios de verdade...
... zombavam de mim, anonimamente,
pela dominação que sofro cruelmente
de tua presente-ausência que
domina meu pensamento impiedosamente,
seja de noite ou de dia, sob sol ou chuva, mas sempre.
Mesmo que de repente, ao súbito o sono se acabe, acordo,
continuando a sonhar pelo calor de tua presença,
pela força de tua ausência, pelo odor de tua lembrança.
Tua imagem refletida no meu espírito assemelha-se ao caminho das nuvens:
de um ponto a outro temperando o rigor do sol,
embelezando o crepúsculo de mais um dia,
abrigando a lua em tuas imensas espumas brancas,
guardando no interior da chuva a terra onde me afirmo.
Tua presença castiga lentamente meus olhos undíferos e fixos,
espelhada numa folha escrita repleta de palavras banhadas pelo teu nome,
pela rima que tem em si, pela melodia que exala de si em si mesma.
Quando penso, e penso muito em ti, penso pensando no nada, nas noites
sem silêncio e na leitura sem reflexão.
Quando penso em ti sou tomado por ondas de sentimentos,
por uma espécie de velocidade arrebatadoramente ingênua,
sem direção para qualquer lugar que se tenha ventura.
Tua presença, tua ausência, tua lembrança não causam dor,
apenas um estado d’alma reflexivo nas estruturas do ser,
na certeza do tempo que transforma paisagens e esculpe formas,
 erige normas de se trabalhar mãos, sonhos e esperanças.
Tua presença caminha por onde caminho,
vivo, leio ou mesmo completamente parado,
presença que ensaia despedida pelo adágio de um sorriso,
por uma pincelada de cores que borrando o papel em branco,
constrói contornando seu rosto na expectativa-perspectiva
sobre meu peito no infinito limitado de suas mãos.






Precisão

Precisão
Wellington Trotta
Pensando em felicidade encontrei você.
Em mim habita uma imperiosa urgência,
Uma emergência dos seus odores e sabores.
Pois,
Precisando de você como preciso,
Insisto na precisão dos seus lábios nos meus,
Como a necessidade do amor preciso.





Hoje senti a magia


Hoje senti a magia

Wellington Trotta

 Lado a lado estavam fechadas as portas,
Janelas, basculantes e os meus olhos,
Cerrados para um cenário sombrio,
                           Maçante noite adentro.
Defronte minha imagem refletia
   Um som calado de angústia sufocante,
 Escorrendo pelo acinzentado quotidiano,
                                                                                          Anonadando a vida, surpreendentemente.