domingo, 27 de fevereiro de 2011

A cabeleira de Beethoven

A cabeleira de Beethoven
(A Marcantonio)
Wellington Trotta

O peso da vida recai sobre ombros métricos.
Assim como Atlas carrega a Terra sobre os seus,
Beethoven expressa nossas angústias em versos
De uma melodia universal sem par, nos seus.

A diferença de um bigode para uma cabeleira,
É que esta demonstra um vigor leonino,
Enquanto aquele um ornamento ressentido.
Mais uma vez a música se sobressai à filosofia.

A sétima sinfonia desperta-nos para uma dança
Cujo primeiro movimento tem lentos passos
De um bailado reflexivo sob sons campestres,
Contrário da quinta sinfonia pela explosão de sentidos.

Beethoven é o mago dos sons escondidos sob sua cabeleira.
Profeta, pronuncia um novo mundo, solapando des-harmonias.
Filósofo, porque reflexivamente remete-nos ao eu
Sem despojá-lo de sua originalidade política.

A cabeleira de Beethoven é um desleixo qualquer,
Um bigode, e bem feito, é a perda da espontaneidade,
Requinte desnecessário de quem toma a essência pelo acidente.
A cabeleira é a solidez pesada da terceira sinfonia.

Nela o maestro rompe músicossocialmente com padrões
Cuja música ainda não atingira à condição de arte 
Em que a reflexão só pertencia à poesia e à pintura.
Beethoven transporta-nos do som ao conceito.

A oitava sinfonia, desconhecida da maioria, porém linda,
Aponta para novas etapas da harmonia que surda,
É ouvida na nona mais, absurdamente.
A cabeleira de Beethoven esmaga o quotidiano.

Beethoven é a sua própria cabeleira juvenil,
Embora o tempo a tenha consumido, como sempre o faz,
A quarta sinfonia como alegria da liberdade
Convida-nos ao canto da ciranda como superação.

Mais uma vez o poeta-filósofo da música alenta
Nossas almas com suas dores sem o ressentimento
Do sofrimento que enrijece as convicções,
Ao mesmo tempo em que flexiona as opiniões.

Beethoven é sua própria segunda sinfonia,
Nela há jovialidade, um misto ardente
De tempestade-ímpeto devastador
Onde a melodia é a síntese do verso-forma.

Beethoven é melodiosidade vivificada na surdez
Pela majestade dos seus quartetos cuja liberdade,
Majestaticamente irmana-se à igualdade:
É a música sob préstimos revolucionários.
  



2 comentários:

Cris de Souza disse...

aplaudo de cabelo em pé...

fantástico!

beijo, poeta de tom maior.

Cris de Souza disse...

beethoven, marcantonio e trotta: um trio que não passa despercebido.