quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Pegadas


Pegadas
Wellington Trotta

Sinto pegadas sem respiração nesta noite,
nesta escuridão, neste tempo de ausência
do percebido e sentido enquanto ouço,
suspirando, no movimento do silêncio um
som que se ouve sem se propagar no espaço:
instante específico e único, marcando  rastro
de pegadas calmamente medidas.
São pegadas de quem finca o seu presente
assemelhando-se na exatidão da eternidade,
pegadas sem fim, sem começo, sem quando.
Certamente caminhamos de um ponto a outro,
aristotelicamente, saída e chegada - hora marcada
como fôssemos uma carta: origem e destino exatos.
Somos apenas pegadas na noite de uma escuridão
angustiada pela pressa do dia que também é noite.
Escuto pegadas firmes sem perceber os pés.
Ouço o sussurro, a leveza das pegadas firmes.
As pegadas candentes, sensuais e leves como
suspiro de amor, confundindo a transpiração
das pegadas ausentes às pegadas sufocantes
do quotidiano, talvez, quem sabe, sejam
não só pegadas mas alucinações de pegadas
inexistentes na mente vazia e desocupada
pelo medo de serem pegadas reconhecidas.
Creio que sejam apenas pegadas, simples pegadas.







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