quarta-feira, 9 de março de 2011

Sábado


Sábado

Wellington Trotta

Graças a deus hoje é segunda-feira,
Até sexta estou livre de lembranças.
Hoje é segunda e já temo o sábado
Onde sua presença é certa.

Hoje, segunda, nela me divido em muitos
Como mestre sem cátedra, banhado
Por muitos olhares devastadores
Não como o de sábado, mas também terríveis.

O de sábado é a ausência de sua ausência,
Ao contrário dos dias úteis da semana,
Repletos de permanência pela curiosidade.
Sábado e segunda são atravessados pelo domingo.

Nesse dia o silêncio é sepulcral, sem corpo.
Sou invadido pelo desejo de nele mergulhar
Na necessidade de deixar segunda nascer.
São olhares antagônicos que me comprimem.

Um ausente por descuido meu, displicência,
Outros por exigências das necessidades.
Estes, suaves, até amorosos em alguns casos,
Aquele a terrível insistência do tudo.

Hoje é domingo e a solidão é bela,
Nela me comprazo como preciso,
Sou livre porque penso e ajo solto.
Por isso não a temo, a venero.

Solidão é um verdadeiro estado embriagador
De múltiplos sentidos para o espírito,
Condição da matéria-prima para a criação,
Nela o pensamento encontra sua vida.

Solidão como morte é o sábado: esperança
De uma carícia perdida na vida solitária.
Solidão como esperança está na segunda:
São os nãos dos jovens que desejam um tipo de sim.

Sábado o pensamento angustiado,
Domingo sua liberdade,
Segunda sua efetividade.
Tudo é vida se for sentida.

Sábado é como o tormento de Prometeu
O dia é dilaceramento do fígado pela lembrança,
A noite é o tormento pela sua regeneração.
Sábado sou um Prometeu acorrentado.

Domingo sou o pássaro Fênix quando renasço,
Liberto das correntes da lembrança, voando
Na solidão do infinito de puras ideias,
Conjecturas perfurando rochedos recorrentes.

Segunda sou apenas um pobre bípede paradoxal:
 Ouvido por uns e ignorado por muitos.
A juventude precisa de si mesma, de sua tristeza
Para ser sua experiência como vida.

Sexta é o prelúdio do vazio,
Sábado é o crepúsculo do vácuo
Domingo é a agitação da solidão,
Segunda é o silencio de minhas palavras.







2 comentários:

Cris de Souza disse...

todo dia da semana ler-te é um prazer à parte.

beijo, poeta fino!

(espantando as cinzas dessa quarta)

Unknown disse...

Quantos questionamentos angustiantes... uma saudade páira e comprime o ar da esperança transformando-a em desesperança,das muitas ausências e uma terrível presença que angustia e incomoda...
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Para onde fugirás dessa presença angustiante o personagem dessa poesia?)srsrs...
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