quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Estou com medo

Estou com medo...
Wellington Trotta.

da multidão,
Ela sufoca-me, subtraindo
Tudo o que ainda há  de bom
Em mim, aos poucos esvaindo-me.

Estou com medo do inesperado
Anunciar o meu destino, sinfonicamente,
Com timbales avisando a hora
Em que o som majestático prenuncia.

Estou com medo da perda dos sentidos,
Única dimensão humano-animal
Que supre a vida de significados
Mesmo que a razão os modere.

Estou com medo do avanço farmacológico
Em detrimento das elucubrações freudianas,
Muito mais fantásticas e menos dependentes
Das pílulas de asma absorventes.
  
Estou com medo de parecer louco,
Maníaco-depressivo-compulsivo
Exagerado sem ao menos ser,
E perder a razão para o tarja preta.

Estou com medo de assumir a compulsividade
Que leva a escrever palavras desconectadas
Da realidade poética em favor da estultícia
Pseudo-ensaística revestida de filosofês.

Estou com medo do ridículo nas ruas
Refugiando-me no abrigo do lar,
Sob a suposta proteção de um copo
D’água com um veneno qualquer.

Estou com medo em pedir socorro
Aos novos doentes como eu,
Limitados em si e longe da sanidade;
É horrível contratar a insanidade.

Estou com medo de ser o que não-sou
E não-ser o que tenho que parecer;
Preciso de ajuda, e muita, mas de quem?
Todos estão doentes como eu estou!

Estou com medo, mas muito mesmo
De saber que sou incurável, caminhando
Para velhice entupido de remédios.
Não sei se, nesse caso, a morte seria heróica?!

Estou com medo de toda ajuda
Vinda daqui, dali ou de onde for.
Suspeito de tudo que se diz normal,
Desconfio da sombra que me persegue.

Estou com medo de ir para onde
O distante seja o fundo de um poço
De hora em hora com goles d’água
Em que o veneno dissolve-se.

Estou com medo de uma palavra qualquer
Que pareça dizer tudo, não dizendo nada
Absolutamente nada ao quadrado de si.
Estou tão confuso como um Hegel no RJ.

Estou com medo do receio do nada em tudo,
Dívidas com o passado de um pagamento futuro,
São débitos passados-presentes de lucros cessantes
Cujos prejudicados são os afetados por minha ânsia.

Estou com medo da turba,
Estou com medo do inusitado,
Estou com medo de perder as sensações,
Estou com medo do avanço tecnológico,
Estou com medo de parecer estúpido,
Estou com medo de assumir as compulsões,
Estou com medo do ridículo das fobias,
Estou com medo em pedir socorro,
Estou com medo de ser o não-ser,
Estou com medo, mas muito mesmo!
Estou com medo de toda ajuda,
Estou com medo de ir para onde,
Estou com medo de uma palavra tola,
Estou com medo do receio do nada em tudo...

Como dizia Drummond
do alto de sua badedoria::
Minhas mãos estão sujas,
a água está podre.

Um comentário:

kellyvictorino disse...

SEJA FORTE E LIBERTA-TE DAS TUAS AMARRAS.SEJA VERDADEIRO CONSIGO,QUE A VIDA SERÁ BEM MAIS LEVE.