Colunas
Wellington Trotta
Por alguns instantes senti a vida
Saindo do seu delicado corpo,
Petrificando minhas pálpebras,
Isolando-as deste obscuro mundo.
Suas pernas, como duas colunas gregas,
Sustentavam o templo dedicado à Beleza,
Pousando sobre minha vontade de viver
A cada segundo de uma vida infinita.
Suas pernas transpiravam a transcendência
De uma harmonia vista nos seios de Afrodite,
Despertando todas as manhãs sob o sol
Longe de um Olímpio vazio por sua fuga.
Naquele instante senti tristeza e felicidade.
Feliz pela poesia que sugava, lentamente.
Triste pela despedida que o seu vestido impôs,
Guardando, pudicamente, as paralelas do amor.
Você partiu sorrindo, suavemente,
Deixando que cada passo falasse
O quanto à vida deve ser tomada
Pelos que podem beber o prazer.
Eu apenas fechei o livro sem letras,
Cerrando os olhos e elucubrando
Sobre a necessidade de ser meu herói,
Removendo os empecilhos que nos separam.
Mas como posso se sou mortal e você deusa?
Como posso se sou finito e você eterna?
Como, se sou fraco e você a expressão da vontade?
Como, se não-sou, e você por ser poesia É, simplesmente?!
Suas pernas transpiravam poemas de amor,
Desejosas de uma força indômita,
De uma coragem selvagem,
E não de quem faz reflexões, por ofício.
Reflexões, puras reflexões sem alguma vitalidade,
Apenas para o futuro do esquecimento.

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