A flor que idealizei
Wellington Trotta
Eu vi a primavera se desfolhando como outono.
Senti cada pétala se desfazendo perante olhos
Insensíveis e incapazes de reverter o fenômeno.
Não houve um domínio sobre a natureza:
Apenas pujança do espetáculo movimentando.
A flor que idealizei se desintegrou,
Virou um nada que passou como antes.
Sem ter percebido, a flor não era flor
Porque o medo engoliu o olfato
E a vida continuou buscando amor.
Senti um enorme desejo em me desfazer. Mas por quê?
Porque a dor dilacerou os olhos desejantes
Com todo o seu elenco de altivo sarcasmo,
Picando os meus sentimentos alimentados
Pela ilusão da imagem que se pretendia ser real.
Chorei sem lágrimas como lobo da estepe,
Farejando o que tinha para continuar vivendo,
Mesmo que uma vida andante sem bússola.
Mas a pergunta insiste: quem sabe o caminho?
Somente o destino conhece a beleza do improviso.
Como um diálogo de Platão, conclui sem respostas,
Entrei na dialética do acontecimento primaveril
E descobri, impiedosamente, para minha auto-estima,
Que o desejo ao passar para o plano do necessário
Não pertence à dimensão dos lutadores sem armas.
Guardei o lápis por não conseguir terminar este poema,
Essa não é arma de vencedores no amor.

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